terça-feira, 13 de dezembro de 2011

O Tempo Mistério no Presépio de Greccio



Neste mesmo ano, junto a Fonte Colombo, Francisco redige a sua 3ª Regra, que é discutida no capítulo geral de junho. A discussão continua em Roma, e em outubro Francisco se dirige ao Papa para pedir a aprovação. Finalmente no dia 29 de novembro, Honório III aprova, com bula papal, a Regra definitiva. É então tempo de celebração.
Talvez desejasse ter passado o Natal em Belém. Não conseguiu.
Mas no dia 24 de dezembro, na noite de Natal, Francisco celebra a Festa do nascimento de JESUS em Greccio. Ali Francisco constrói o primeiro presépio.
Greccio é uma comuna italiana da região do Lácio, província de Rieti, Tem hoje cerca de 1.466 habitantes. Estende-se por uma área de 17 km2, tendo uma densidade populacional de 86 hab/km2. Faz fronteira com Contigliano, Cottanello, Rieti, Stroncone.
Este local foi transformado na Nova Belém. Lugar do mais importante presépio depois de Belém. Lugar onde Francisco reviveu o natal e nos ensinou a reviver a alergia da esperança e a celebração do Cristo que veio.
O que aconteceu nesta noite de Natal?
Tomás de Celano, o mais importante Biógrafo de Francisco (Biografia de São Francisco de Assis - Tomás de Celano, nºs 84 e 86) diz que “Sua maior aspiração, seu mais vivo desejo e mais elevado propósito era observar o Evangelho em tudo o por tudo, imitando com perfeição, atenção, esforço, dedicação e fervor os “passos de Nosso Senhor Jesus Cristo, no seguimento de sua doutrina. Estava sempre meditando em suas palavras e recordava seus atos com muita inteligência. Gostava tanto de lembrar a humildade de sua encarnação e o amor de sua paixão, que nem queria pensar em outras coisas,. Precisamos recordar com todo respeito e admiração, o que fez no dia de Natal, no povoado de Gréccio, três anos antes de sua gloriosa morte. Havia nesse lugar um homem chamado João. Uns quinze dias antes do Natal, São Francisco mandou chamá-lo, como costuma fazer, e disse: “Se você quiser que celebremos o Natal em Gréccio, é bom começar a preparar diligentemente e desde já o que eu vou dizer. Quero lembrar o menino que nasceu em Belém, os apertos que passou como foi posto num presépio, e contemplar com os próprios olhos como ficou em cima da palha, entre o boi e o burro”. Ouvindo isso o homem bom e fiel correu imediatamente e preparou no lugar indicado o que o Santo tinha pedido. E veio o dia da alegria, chegou o tempo da exultação. De muitos lugares foram chamados os Irmãos. Homens e mulheres do lugar, coração em festa, prepararam como puderam tochas e archotes para iluminar a noite que tinha iluminado todos os dias e anos com sua brilhante estrela. Por fim chegou o Santo e, vendo tudo preparado, ficou satisfeito. Fizeram um presépio, trouxeram palha, um boi e um burro. Gréccio tornou-se uma nova Belém, honrando a simplicidade, louvando a pobreza e recomendando a humildade. A noite ficou iluminada como o dia: era um encanto para os homens e para os animais. O povo foi chegando e se alegrou com o mistério renovado em uma alegria toda nova. O bosque ressoava com as vozes que ecoavam nos morros. Os frades cantavam, dando os devidos louvores ao Senhor e a noite inteira se rejubilava. O Santo estava diante do presépio a suspirar, cheio de piedade e de alegria. A Missa foi celebrada ali mesmo no presépio, e o sacerdote sentiu uma consolação jamais experimentada. O Santo vestiu dalmática, porque era diácono, e cantou com voz sonora o Santo Evangelho. De fato, era “uma voz forte, doce, clara e sonora”, convidando a todos às alegrias eternas. Depois pregou ao povo presente, dizendo coisas doces como o mel, sobre o nascimento do Rei pobre e sobre a pequena cidade de Belém. Muitas vezes quando queria nomear Cristo Jesus, chamava-o também com muito amor de “Menino de Belém”.
Segunda as palavras de Celano, percebemos os objetivos de Francisco ao construir o primeiro presépio. Seus objetivos foram:
- Observar através do Presépio as palavras do Evangelho de Jesus;
- Lembrar a humildade da encarnação do Senhor JESUS;
- Reviver a situação pobre vivida por JESUS.
- Contemplar a palha, o boi e o burro para tentar vivenciar a pobreza e a entrega total de JESUS

- Reunir pessoas para a Celebração da fé na encarnação de Deus;
- Transformar Gréccio em uma nova Belém
- Louvar a pobreza e recomendar a humildade.
- Realizar uma Missa, um culto a Deus vivendo e sentindo a alegria do momento do nascimento de Cristo.
- Pregar o Evangelho e falar do grande amor de Deus.
Foram colocadas as palhas e os animais. A manjedoura ficou vazia por momentos. Mas ali Francisco pode contemplar JESUS. O Tempo Cronos deixou lugar para o tempo kairós. Entrou o tempo litúrgico, também chamado de tempo mistério. No tempo mistério não existe nem o hoje, nem o amanhã e nem o ontem. Reina o Mistério. Podemos vivenciar o que ocorreu um dia. Atualizamos os passos de Jesus. Como Isaías que vivenciou o que o messias iria passar no seu sofrimento de cruz, contando como se já estivesse acontecido.
Francisco usou o presépio para reviver, mergulhar no mistério do Natal. Não mergulhou só. Celebrou com o povo. Parecia estar com o menino no colo. Voltou a Belém e se fortaleceu em Deus para enfrentar seus últimos três anos de vida.
A fé se transformou em festa. A pobreza do menino de Belém foi o grande tesouro encontrado por Francisco.
Assim também devemos celebrar o Natal com o espírito franciscano. Vendo no Cristo de Belém o amor do Pai que se aproxima, até mesmo numa manjedoura.
Não há limites para o Deus apaixonado pelo ser humano. Está foi à grande alegria da celebração de Francisco. Esta deve ser também nossa alegria. Feliz mês do Natal.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Um ideal a ser seguido


São Francisco, Pai dos Pobres
"Venha a mim todos vocês que estão cansados de carregar o peso do seu fardo, e lhes darei descanso" (Mt 11,28)
"Por suas chagas veio a cura para nós (Is 5,5)
São Francisco das Chagas sempre foi solidário com os pobres e sofredores; quando abraçou e beijou o leproso percebeu que estava recebendo o abraço de Jesus. Antes de morrer foi agraciado com as chagas de Jesus. Por isso o chamamos de São Francisco das Chagas. Em Canindé ela continua abençoando todos os chagados, sobretudo os pobres excluídos, que o apelidaram carinhosamente de: "Nosso melhor medido!"
São Francisco, o Santo da Paz
São Francisco nada mais queria do que viver o Evangelho. A sua opção radical não o levou ao fanatismo, mas sim lhe deu um espírito de tolerância. Em plena guerra entre os cristãos e mulçumanos, São Francisco estabelece um diálogo com o Sultão Melek-El-Kamel, primo do famoso Saladim, conquistador de Jerusalém. São Francisco nos ensina que a verdadeira religião é servir ao Deus da vida e reconciliar as pessoas de boa vontade, independente de seu credo, de sua crença ou de sua condição social. A paz sempre é o fruto da justiça!
São Francisco, Patrono da Ecologia
No ano de 1979, o Papa João Paulo II proclamou São Francisco o patrono da Ecologia. São Francisco nos ensina que podemos louvar a Deus criador cuidando bem de todas as criaturas. Deus criador nos colocou juntos no mesmo mundo, na mesma terra, e por isso somente seremos felizes vivendo em harmonia com todas as outras criaturas. São Francisco sonhou com o ideal do profeta Isaías: "E o lobo será hóspede do cordeiro, a pantera se deitará ao lado do cabrito, o bezerro e o leãozinho pastarão juntos, e um menino os guiará". (Is 11,6)

O Advento com S. Francisco


“Deus, disse São Francisco, é Trindade e Unidade, Pai e Filho e Espírito Santo, criador de todas as coisas e salvador de todos os que nele creem, esperam e o amam... sem início e sem fim, imutável, invisível, inenarrável, inefável, incompreensível, insondável...”.
Deus é mistério...! Este mistério é revelado a nós pelo Verbo que se fez carne: o Pai enviou-nos o Filho e o Espírito Santo. O Verbo, encarnado no seio da Virgem Mãe é Jesus, o Senhor.
No Ano litúrgico, a Igreja (nascida do lado aberto de Jesus e, por isso, sua esposa) apresenta a vida de Jesus nos seus mistérios. Jesus que nasce; Jesus que anuncia o Reino; Jesus que assume todos os males e a morte no seu sacrifício, revelação suprema de Deus – Amor; Jesus que ressuscita e que se manifestará na sua glória, dando glória ao Pai.
Deus, diz São Francisco, “é Salvador de todos os que nele creem, esperam e o amam...” É Salvador: Ele nos envia o seu Filho para que nós, criaturas humanas, possamos conhecê-lo e receber a força do Espírito Santo para agir segundo seu exemplo e sermos reconhecidos por Ele como filhos.
O Ano litúrgico é, portanto, a vida de Jesus oferecida à nossa reflexão e oração para que possamos assimilá-la, torná-la nossa até Cristo viver em nós.

O Ano litúrgico começa pelo Advento: “ad- venio”: é Deus que vem ao nosso encontro... O Advento é preparação ao Natal... Depois de ter evidenciado estas verdades, será que podemos viver o Advento pensando somente em preparar o presépio, as luzes, músicas e presentes, ou antes, empenharmo-nos no conhecimento maior deste mistério, na vivência das virtudes cristãs, numa vida mais coerente com a nossa Fé?
A Vida de Francisco de Assis foi todo desejo ardente de identificar-se ao Cristo.
Um século antes São Bernardo de Claraval tinha comentado que Jesus veio uma primeira vez na fraqueza da carne e virá certamente uma terceira vez em todo esplendor de sua glória, mas há uma vinda intermediária na qual manifesta o poder da sua graça e dá aos que nele creem repouso e consolação. Ela é oculta, é uma vinda espiritual e a recebe quem teme a Deus e faz o bem (Eclo 15,1), quem O ama e guarda a sua Palavra (cf. Jo 14,23), quem a conserva no coração para não pecar (Sl 118,11).
Graças a “essa vinda” diz São Bernardo, “refletiremos a imagem do homem celeste” (1Cor. 15,49).
Precisamos então desejar sua vinda, sua presença, vigiando. Quem vigia recusa a superficialidade e vai ao profundo dos fatos para descobrir a vinda do Senhor e, se tiver espírito missionário, descobri-la também nos encontros com os outros. Somente o Senhor Jesus pode dar a paz e reunir os homens que o egoísmo divide, começando pelas famílias, fundamento tão necessário para uma sociedade sadia.
O tempo da “vinda intermediária” é o tempo da vigilância, da conversão, “um tempo humano já carregado do tempo de Deus”.
Tempo para adquirir um coração de pobre, vazio de si, capaz de usar caridade afável e paciente para com os outros, aberto a todas as iniciativas do bem, testemunhando a alegria que nos trás Jesus Salvador.

Ir. Maria Bernarda de Cristo Rei, Cl. Capuchinha
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