Frei Aloísio Fragoso, OFM |
Estamos às portas de novas eleições, cercados de reclamos políticos por
todos os lados. A expectativa dos eleitores é a mesma de outras campanhas e de
sempre: construir uma nação igualitária, justa para todos, limpa de mazelas e
confiável na procura do bem comum. Todos os candidatos prometem com discursos
iguais corresponder a esta expectativa.
Estarão iludidos os eleitores? Ainda que assim fosse, não temos o direito
de fugir aos deveres da cidadania. A História comprova que, neste campo, a
indiferença ou a omissão acabam se constituindo em uma nova categoria política:
a dos acomodados ou desesperançados. O que daí resulta é só benefícios para as
velhas raposas, prontas a se perpetuar no poder e continuar tranquilamente
mamando nas tetas da nação.
Coincidentemente acontece o julgamento dos réus do chamado mensalão. A
grande midia trata de transformá-lo numa espécie de "maior espetáculo da terra",
onde temos de assistir ao juízo final sobre a consciência coletiva do país.
Nossos sentimentos cívicos e morais se confundem e se conflitam. Por um lado,
alegramo-nos ao reconhecer que a passagem dos anos não arquivou a ação da
Justiça. Por outro lado, perguntamo-nos: por que o palco do Supremo Tribunal
Federal foi armado precisamente no tempo e na duração desta nova campanha
política? Por que um só dos mensalões sobe ao banco dos réus, enquanto outros,
com protagonistas dos demais partidos políticos, esperam um momento menos
inoportuno, que não se sabe quando virá, se virá? Seria preciso um enorme
déficit de lucidez mental para acreditar que isso acontece por mera
coincidência.
Qualquer que seja o resultado deste processo, ele estará sob suspeita:
nunca saberemos se a sentença final foi ditada pelo respeito ao Direito e a
Justiça ou também contaminada por indisfarçáveis pressões eleitoreiras.
Que pensar de tudo isso à luz da fé cristã? Vale a pena ficar repetindo
velhos chavões, como por ex. o exercício da política partidária é
inevitavelmente corruptor e dele ninguém escapa de mãos limpas? Esta
generalização traz consigo a absolvição antecipada de todos os corruptos,
transforma o delito em uma norma universal, um princípio gerado da natureza
humana, além disso legitima o pecado de uns pela inevitabilidade do pecado dos
outros. De tanto ouvir falar dos mesmos delitos e sentir a impotência de
corrigi-los, a consciência comum passa a absorver a idéia de que a prática da
corrupção deve entrar na lista das perdoáveis fraquezas humanas, daí
corromper-se é natural, não corromper-se é sobrenatural, virtude reservada aos
santos. Desta forma selamos o vício como regra e a virtude como exceção. Uma
inversão de toda moralidade. Quando se perde a consciência do pecado, a ponto de
legitimá-lo, é sinal de que, moralmente, chegamos ao fundo do poço. Salve-se
quem puder, i.e.. quem for mais esperto.
A moral cristã considera a corrupção pecado grave, merecedor de condenação.
A mão que vai depositar o voto é a mesma que faz o "pelo sinal da santa cruz
livrai-nos Deus Nosso Senhor dos nossos inimigos". Os que se corrompem com o
dinheiro público são inimigos do povo. O inferno para eles aqui na terra é o
ostracismo político. O voto é nossa arma.
No entanto o nosso voto não pode ser orientado pelas incertas sentenças dos
senhores juízes do STF e sim pela nossa consciência cívico-cristã, escolhendo
aquele Projeto Político que comprovadamente prioriza as classes mais deserdadas
e menos favorecidas.
Leia mais: http://www.franciscanosne.com/news/elei%c3%a7%c3%b5es-/
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