800 anos da Fundação da Ordem de
Santa Clara – Um acontecimento a ser vivido
Em 2012, as Irmãs Clarissas de todo o
mundo estarão comemorando 800 anos de Fundação da Ordem de Santa Clara.
Celebraremos o fato ocorrido com Clara, a jovem da nobreza italiana do século
XII, que inflamada pelo amor de Cristo, inicia uma aventura evangélica
semelhante a que Francisco iniciou ao receber a graça de fazer penitência e de
seguir a Cristo de modo apaixonante.
Num discurso improvisado às Irmãs
Clarissas de Assis em 1982, o nosso saudoso papa João Paulo II recomendou:
“Quando celebrardes o centenário de Santa Clara, devereis fazê-lo com grande
solenidade... Em nossa época, é necessário repetir a descoberta de Santa
Clara... É necessário redescobrir esse carisma, essa vocação; urge redescobrir
a lenda divina de Francisco e Clara”.
Como resposta a essa recomendação, toda a
Ordem de Santa Clara e com ela toda a Ordem Franciscana começou a se preparar
para esse grande acontecimento. No Domingo de Ramos de 2009, foi iniciada a
preparação para o Grande Jubileu – o 8º Centenário da Fundação da Ordem de
Santa Clara, que culminará no dia 11 de agosto de 2012.
É o aniversário da Ordem de Santa
Clara! É sempre interessante e cativador o pensamento de um aniversário, pois
traz consigo uma beleza e vitalidade singular. E para celebrar um aniversário é
preciso preparar-se; preparar o coração, perder tempo, criar laços com o que se
comemora, porque antes de uma grande festa a ser celebrada, o aniversário de
800 anos da Ordem de Santa Clara é um acontecimento a ser vivido.
Ao pensar em 800 anos de vida clariana
pulsante em cada continente, quantos questionamentos nos saltam a mente! Se
olharmos ao nosso redor nos deparamos com o mundo da evolução da tecnologia que
garante a facilidade na vida das pessoas, mas também com um mundo que, em meio
de tantas facilidades, as pessoas se tornam cada vez mais gananciosas,
recebemos pelos meios de comunicação uma avalanche de notícias sobre pessoas
que já não sabem mais como se relacionar - e isso comprovamos pelo número de
famílias destruídas, roubos e assassinatos cada vez mais assustadores -, e
ainda o aumento de pessoas com depressão, sem contar com a miséria que chega a
tirar até a dignidade humana. Quantas notícias tristes! E em meio a tudo isso
uma luz acesa há 800 anos brilha no mundo e encanta a milhares de pessoas. E
podemos nos perguntar: por que, hoje, no século XXI, tantas pessoas se voltam
para olhar dois pobres da Idade Média? O que faz com que tantas pessoas
envolvidas pelo “mundo da novidade” olhem com admiração para o passado, para
uma forma de vida, aparentemente, tão ultrapassada?
O interesse pela vida de Santa Clara se
dá justamente porque mesmo sendo um estilo de vida iniciado há 8 séculos atrás,
antes de antiquado, é atual, questionador, convocador e provocador para os
inúmeros desafios humanos e sociais de hoje. E ao lermos os Escritos de Santa
Clara entendemos isso nitidamente, pois ela fala de uma realidade que é sempre
atual: a realidade humana.
Se estamos falando sobre a
superficialidade nos relacionamentos hodiernos, Clara ensina com maestria:
“Amando-vos uns aos outros com a caridade de Cristo, demonstrai por fora, por
meio das boas obras, o amor que tendes dentro”. Diante da ganância e da sede de
poder, ela diz sabiamente que “... seguindo os passos da humildade e pobreza...
você vai conter quem pode conter você e todas as coisas, vai possuir algo que,
mesmo comparado com as outras posses passageiras deste mundo, será mais
fortemente seu”. Se comentarmos sobre a depressão, como mulher experiente nos
anseios do coração humano diz: “Exulte sempre no Senhor também você e não se
deixe envolver pela amargura e o desânimo”. E se ainda nos questionarmos sobre
a miséria na qual tantas pessoas vivem, ela nos lembra que nosso “tão grande e
elevado Senhor, vindo a um seio virginal, quis aparecer no mundo desprezado,
indigente e pobre, para que os homens, paupérrimos e miseráveis, na extrema
indigência do alimento celestial, nele se tornassem ricos, possuindo os reinos
celestes”.
Assim, podemos colher de seus escritos e
de sua vida, inúmeras respostas e ensinamentos para os problemas de hoje, pois
sua vida é profética. Nos seus 41 anos de vida sem sair do mosteiro, Clara
demonstra que a vida contemplativa enclausurada não significa passividade
pietista e não se identifica com uma falta de empenho para com os desafios da
vida humana, mas sim, uma contemplação de Cristo, contemplação que leva à
transformação. Ela aprendeu a ver o mundo com os olhos do Senhor Crucificado, e
nesse espelho encontrou respostas para os dramas da vida humana e, assim,
audaciosamente, comprometeu-se com todas as dores do homem, numa terna
compaixão.
E Santa Clara nos ensina seu segredo:
“Ponha a mente no Espelho da Eternidade, coloque a alma no esplendor da glória,
ponha o coração na figura da substância divina e transforme-se inteira, pela
contemplação, na imagem da divindade”. Seu segredo é a contemplação de Cristo,
contemplação que é seguimento, imitação. Somos homens e mulheres sedentos de
modelos a seguir, é fácil perceber isso ao observarmos como uma moda se difunde
na sociedade, seja uma roupa, jeito de falar ou sorrir e até o modo de se
comportar. E para essa sede, Clara nos mostra com sua vida – e esse 8º
centenário evidencia isso – que o único modelo, exemplo e espelho, por
excelência, é o Senhor Jesus Cristo.
Nesse momento em que estamos já
vivendo o segundo ano preparatório para esse grande acontecimento que envolve
toda a Família Franciscana, temos como proposta o aprofundamento da
Contemplação, logo após meditarmos no ano passado sobre a nossa vocação.
Que durante esse período possamos
reavivar a chama desse dom de Deus em nossas vidas. E assim comunicar ao mundo
de hoje a força dessa sedução que caracterizou o “tempo das origens” e exprimir
com maior coerência o que somos e para quem vivemos. Pois, reconhecer a nossa
vocação significa dar graças ao Pai de toda misericórdia por tudo que realizou
em nossas vidas e, principalmente, responder a essa vocação com toda grandeza
de alma que merece uma celebração de 800 anos de vida. É voltar às origens,
viver o essencial da Ordem que permanece vivo e forte apesar de nossas
fraquezas e limitações. É “não perder de vista o ponto de partida” e “completar
apaixonadamente a obra” que nossos seráficos pais começaram tão bem e nós
“assumimos na santa pobreza e na humildade sincera”.
Em Louvor de Cristo. Amém!
Irmãs Clarissas
Mosteiro Santa Clara de Deus
Trino - DF
fonte: site FFB
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